O vice-prefeito da cidade de Colombo, Professor Alcione, comprou num único dia cinco apartamentos num mesmo residencial. E pagou à vista. Os imóveis foram registrados em nome de um filho de Alcione e de uma empresa (Editora Educador) da qual o atual vice-prefeito é sócio. A informação foi divulgada nesta quarta-feira (14/08) pelo jornal O Globo com base na investigação da Polícia Federal no âmbito da operação Liber — que cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Alcione.
A reportagem aponta, com base em documentos sigilosos da investigação, que o vice do prefeito Helder Lazarotto (PSD) pagou R$ 500 mil nos imóveis, mas a PF suspeita de crime de lavagem de dinheiro porque cada um dos apartamentos estaria avaliado em R$ 200 mil — totalizando R$ 1 milhão. “Segundo a PF, foi feito lançamento menor da quantia desembolsada para ocultar parte do montante investido e permitir margem de lucro aparentemente lícita com a venda futura”.
Os documentos da investigação também levantam indícios de que a Editora Educador, da qual Alcione é sócio, seja uma empresa de fachada, “sem rendimentos próprios e condições que justifiquem a aquisição dos bens identificados”. A PF pontua que Alcione recebe um salário de aproximadamente R$ 10 mil na prefeitura e “mesmo se economizasse tudo, não seria possível, em dois anos, adquirir os bens encontrados nesta investigação que beiram mais de 1 milhão de reais”.
O vice-prefeito de Colombo é investigado pelos crimes de lavagem e desvio de dinheiro público através de um contrato da Secretaria da Educação da cidade — pasta que era comandada por Alcione até a deflagração da operação Liber, quando a Justiça Federal determinou o imediato afastamento tanto da função na secretaria quanto do cargo de vice-prefeito. O Superior Tribunal de Justiça, no entanto, autorizou a retomada do cargo de vice de Helder Lazarotto, mas o manteve afastado da Educação.
De acordo com a PF, o município de Colombo pagou cerca de R$ 141,00 por unidade de um livro de 23 páginas. Mas o mesmo produto foi adquirido em outras cidades do Paraná por valores entre R$ 13 e R$ 60. “O prejuízo estimado aos cofres públicos foi de cerca de R$ 7,3 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão podem ter sido desviados em favor de Alcione e seus familiares”, cita a reportagem do O Globo.
A compra fraudulenta de livros infantis como fachada para desviar recursos públicos estava sendo investigado pela Polícia Federal, mas uma recente decisão da Justiça Federal declinou a competência para a Justiça Estadual — acolhendo a uma tese defensiva de um dos investigados de que os recursos federais foram integralizados ao orçamento do município, estando assim sujeito ao controle estadual e não mais federal. Além da questão da competência, os advogados pedem a nulidade de todos os atos praticados — o que será julgado pela Justiça estadual.
Alcione é investigado por corrupção ativa e passiva, associação criminosa, fraude à licitação e lavagem de dinheiro. Por conta do escândalo de corrupção na prefeitura de Colombo, o prefeito Helder Lazarotto optou por substituí-lo na chapa de reeleição que vai disputar o pleito de outubro. Saiu Alcione e entrou Paulo Coradin.
Apesar da investigação por corrupção, Helder Lazarotto tinha planos de manter Alcione como vice para disputar a prefeitura em 2024. Tanto é que durante o debate promovido pela Tv Band o prefeito de Colombo chegou a defendê-lo ao dizer que Alcione não é o vice na chapa de reeleição porque ele (Alcione) não quis, por motivos familiares. “(Alcione) É uma pessoa ficha limpa”.
Talvez Helder mude agora o discurso depois de vir à tona a informação que o seu vice comprou à vista 5 apartamentos num único dia que podem ter custado nada menos que R$ 1 milhão.
O Blog Politicamente procurou a defesa de Alcione para comentar o caso. No início da tarde, o advogado Guilherme Luchesi encaminhou uma nota citando que o vice-prefeito Alcione Giaretton recebeu “com surpresa a ‘notícia’ de existência de um inquérito, instaurado há mais de seis meses, por uma polícia já reconhecida como incompetente para o caso. Não bastasse, o inquérito está em segredo de justiça, e não é a primeira vez que o seu conteúdo é vazado de forma criminosa. Isso reforça que a investigação foi aberta com objetivos políticos”, cita.
O advogado pontua ainda que a Editora Educador não é de fachada e que ela foi aberta em 2014, “muito antes de o Professor Alcione entrar na vida pública. A empresa presta presta serviços de consultoria em educação e emite as notas fiscais dos serviços prestados desde a sua abertura. Os valores e contratos feitos pela empresa justificam a aquisição dos bens, ao contrário do que querem fazer crer as matérias jornalísticas.”
Fonte: O Globo